
Takeda tem aprovação para compra da Shire
A Takeda Pharmaceutical ganhou aprovação dos acionistas para financiar a compra da Shire, por 46 bilhões de libras (US$ 58,4 bilhões), abrindo caminho para a maior aquisição da história empresarial do Japão e a criação de um laboratório farmacêutico internacional com receitas combinadas de US$ 32 bilhões.
A votação ontem põe fim a meses de uma campanha agressiva do executivo chefe da Takeda, Christophe Weber, contra as tentativas de membros da família fundadora para derrubar o negócio. A diretoria do grupo japonês de 237 anos vê a transação como fundamental para garantir um lugar entre as dez maiores empresas farmacêuticas do mundo.
Depois de duas horas e meia de uma assembleia extraordinária em Osaka, a Takeda anunciou ter conseguido aprovação dos acionistas donos de quase 90% do capital para lançar novas ações com o propósito de usá-las na compra do laboratório farmacêutico irlandês.
“O mercado japonês representa 7% do mercado mundial”, afirmou Weber, respondendo a um acionista que perguntou se a Takeda poderia continuar uma empresa japonesa depois da transação com a Shire. “Então, se quisermos ser bem-sucedidos, precisamos ser bem-sucedidos fora do Japão”, disse.
Outros investidores questionaram Weber quanto à queda das ações da companhia e expressaram dúvidas sobre a capacidade da Takeda manter o pagamento de dividendos.
A aquisição, que deverá ser concretizada em 8 de janeiro, vai trazer para a Takeda, que carece de remédios importantes em fase final de desenvolvimento, a lucrativa carteira de remédios da Shire contra doenças raras. Também vai aumentar sua presença nos Estados Unidos, maior mercado farmacêutico do mundo, que vai passar a representar cerca de metade de sua receita após a integração com a Shire.
Entre os analistas, o acordo foi recebido positivamente de forma generalizada, algo não tão comum para um acordo internacional desse tamanho.
Aquisição vai aumentar a presença do grupo japonês nos Estados Unidos, maior mercado farmacêutico do mundo
“A Takeda passa por transformações fundamentais, de uma sonolenta concorrente regional a uma concorrente internacional”, escreveu o analista Stephen Barker, da firma de investimentos CSLA, em recente relatório. “A escala é vital porque os custos de desenvolvimento estão em alta e uma base de operações mundial é chave para maximizar a receita obtida com novos produtos.”
Dos 46 bilhões de libras da compra, o grupo deverá custear cerca de 25 bilhões de libras com novas ações da Takeda. Também foram assegurados créditos bancários de 24 bilhões de libras (US$ 31 bilhões).
Desde que a Takeda divulgou seu interesse na Shire no fim de março, suas ações caíram mais de 20%, por preocupações quanto ao tamanho do negócio e ao risco para os atuais acionistas com a diluição do valor dos papéis. Ontem, as ações caíram 2,2% logo depois da votação, mas acabaram se recuperando e fecharam a sessão com alta de 1,1%.
Um grupo de mais de cem ex-funcionários da Takeda e de membros da família fundadora fizeram campanha contra a transação. Expressavam preocupação particularmente com a dívida líquida de US$ 48 bilhões que o grupo vai ter após a aquisição.
A companhia japonesa anunciou planos para reduzir o endividamento por meio do fluxo de caixa da empresa combinada, da venda de ativos não essenciais no valor de mais de US$ 10 bilhões e de cortes de custos de pelo menos US$ 1,4 bilhão.
Investidores também ressaltaram a ameaça cada vez maior por parte dos concorrentes à lucrativa linha da Shire de tratamentos para hemofílicos, que representa cerca de 25% de sua receita.
Os dissidentes ganharam recentemente o apoio de Kunio Takeda, ex-presidente do conselho de administração da companhia e último membro da família a comandá-la. A campanha, contudo, não conseguiu arregimentar mais apoio de investidores de varejo e de investidores institucionais japoneses.
“Agora que o negócio foi aprovado, vamos apresentar propostas sobre como a aquisição pode ser bem-sucedida e garantir um crescimento constante para a Takeda”, disse Kazuhisa Takeda, um dos principais membros do grupo dissidente e também parte da família fundadora, após a assembleia. “Mas se este negócio acabar sendo malsucedido, vamos pressionar a diretoria para assumir a responsabilidade.”
A votação ficou dentro das expectativas dos analistas, de apoio de 90%, depois que a Glass Lewis e a Institutional Shareholder Services haviam recomendado os acionistas da Takeda a aprovar a compra.
O grupo japonês também ganhou sinal verde das autoridades reguladoras de todos seus maiores mercados.
Fonte: Valor Econômico