
O desafio da inovação e atração de capital para a “start up”
“Há apenas uma maneira de evitar críticas: não fazer, não falar e não ser nada” – Aristóteles
Se uma característica marcante e temida do capitalismo é a ocorrência de crises cíclicas- superadas até o momento – não menos importante é a inovação e seu papel determinante nos ciclos, no aumento da produtividade e do bem-estar social ao longo do tempo.
Inovação exige combinação de vários conhecimentos, entre os quais, os econômicos e de gestão. O mestre economista Schumpeter nos ensinou muito sobre esta visão econômica da inovação.
Não devemos confundir inovação com descobertas ou invenções. No sentido econômico, inovação surge quando ocorre a primeira transação comercial envolvendo o novo produto, serviço, processo ou sistema. Parafraseando Peter Drucker, “o propósito de um negócio é criar um cliente”. Portanto, somente quando a invenção ou descoberta atinge a etapa de comercialização e inserção no mercado temos inovação como um negócio. Um caminho, por vezes, longo e arriscado. Cheio de críticas, inclusive dos familiares. Parabéns e resiliência empreendedor!
Um dos motores desse processo – sim, um processo – de inovação sob o ponto de vista econômico – social é o empreendedor, em particular para esta nossa abordagem, o indivíduo ou a pequena empresa, usualmente denominado “start up” 1. Na esmagadora maioria dos casos, o empreendedor precisará de capital de terceiros para evoluir com seu projeto. Mas como o empreendedor de tal “start up” pode demonstrar ao provedor de capital sua potencialidade de geração de valor considerando a incerteza do negócio embrionário que se apresenta? Qual o
“pitch” e como ela está em linha com a filosofia e critérios de investimento do provedor de capital?
Por exemplo, sob o ponto de vista econômico, uma inovação bem-sucedida, enquanto negócio, é a que apresenta um “retorno sobre o investimento” positivo. Capitalistas de Risco ou “venture capitalists”2 se utilizam de diversas métricas antes de aportar capital em um projeto já em curso desta natureza. Para tanto, é preciso ter alguma medição objetiva de valor e alguns indicadores são utilizados. Neste estágio, ferramentas de avaliação como fluxos de caixa são difíceis de estimar, mas indicadores como “Receita Recorrente Mensal” (RRM) que é a soma de todas as receitas contratadas que uma empresa pode confiar no próximo mês ou seu equivalente anual, a “Taxa de Execução Anualizada” (TEA) podem ajudar. Do mesmo modo, uma vez que a satisfação do cliente e a aceitação da inovação é sempre vital, uma métrica que indique a taxa de cancelamento (“churn rate”) dos clientes e, se possível, comparável com uma média do setor, pode ajudar. Para o investidor, é muito importante entender o “cash burn rate” ou a “taxa de queima de caixa” durante um período ou, ainda e muito importante, a relação entre o valor do tempo de vida do cliente e o de custo de aquisição do cliente (relação CLV – CAC).
Embora estes indicadores, não exaustivos, forneçam uma base geral para entender o desempenho ou potencial dos negócios em empresas “start ups”, eles não dispensam um plano de negócios compacto, mas consistente e elucidativo, incluindo a análise estratégica, do mercado e produtos, da liderança, da modelagem do processo de inovação em curso, questões legais (societárias, patentes, etc.), entre outros aspectos que devem fazer parte da tese de investimento. Para o provedor de capital a intuição, experiência e bom senso – natural ao espírito do capitalista – são também bons balizadores da decisão de investimento.
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Vlamir Ramos
Co-CEO da Nello Investimentos. Economista, Advogado e Mestre em Economia. Executivo “C-Level” com mais de 30 anos realizando negócios no Brasil e no exterior.
vlamir@nelloinvestimentos.com.br
Daniel Dalcanale
22 de outubro de 2018Excelente artigo Vlamir! Parabéns. Um abraço